sexta-feira, 16 de março de 2012
Mocinha dos sapatos azuis.
Eu me sentei no banco do ônibus sem nem olhar para quem estava ao meu lado. Pus minha maleta no colo e passei as mãos no rosto. Voltava do trabalho. Horas e horas no banco. Queria mudar de emprego, algum dia encontraria algo melhor. Algum dia... Olhei meus sapatos, estes precisavam de água, de um pouco de graxa, eram pretos mas estavam cinzas. Decerto pisei em alguma lama. Definitivamente limparia meus sapatos ao chegar em casa. Respirei fundo, fazendo barulho com o nariz. O chão metálico do ônibus também estava sujo, havia chiclete velho colado ali, e outras coisas que não podiam ser identificadas. Também precisava ser limpo. As companhias de ônibus não mandam lavá-los? Ora, mas do que me importa?
Eu continuava com os olhos parados num ponto do chão metálico, tentando pensar em alguma coisa que não fosse relacionada à minha vida patética. Pensei no preço da gasolina, na greve da polícia, num letreiro que vi antes de entrar no ônibus. As crianças de hoje não estudam? E eu? Eu ainda era jovem, podia arranjar um emprego melhor. Eu podia...
Ah! Algo interrompeu meus pensamentos, senti uma dor na perna que me arrancou uma expressão que me fechou todo o rosto. Abaixei os olhos e vi um pé ao lado do meu calçando um sapatinho azul-marinho, e quando subi meu rosto, ouvi uma vozinha pedindo desculpas.
Era uma garota de olhos bem negros e grandes, daqueles que leem a alma. Ela era toda olhos, e eu não conseguia enxergar mais nada além daquele par de órbitas.
Eu estava desconcertado, como se estivesse nu em local público, e dirigi meu olhar para o outro canto do ônibus, embora conseguisse enxergá-la pela minha visão periférica.
A mocinha se meteu num livro que apoiava no colo e dali não tirou mais o nariz.
O ônibus balançava e seu corpinho também, quase caindo do assento, esbarrando seu ombro no meu a todo instante.
Não pude ver qual era o livro, pois meus óculos estavam na maleta, mas ouvi que ela dava pequenas risadas.
Lá fora os carros buzinavam e lá dentro as pessoas faziam um barulho terrível, e mesmo assim a mocinha não tirava o rosto do livro, continuava enfunada naquele amontoado de papel.
Eu foquei meus olhos em seus sapatinhos azuis. Qual deveria ser o nome dela?
A essa hora um idoso se aproximou, eu fingi que dormia para não sair do lado dela e ter de dar o lugar ao velho, mas antes que eu pudesse simular meu sono, vi a mocinha se levantar, quase pisando em meu pé novamente, mas esbarrando em meu joelho, e dando o lugar ao senhor.
Ela tinha cheiro de chocolate e carregava uma mochila rosa no ombro direito.
Quando olhei para trás, só tive tempo de vê-la descer do ônibus, deixando sem querer o livro pender dum bolso e cair no chão metálico.
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2 comentários:
Olá vim conhecer seu Blog e gostei
muito belas postagens,tem coisas
que faz a gente ficar em paz e feliz
Abraços de bom final de semana
Esse post é lindo parabéns
Bjuss Rita!!
Espero sua visita
http://cantinhovirtualdarita.blogspot.com.br/
hooy, muito lindo o blog, tudo muito lindo *-*
seguindo! Segue de volta? http://twofriendsonediary.blogspot.com/
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